Fatores preditivos na perda ponderal de pacientes submetidos ao Bypass Gástrico em Y de Roux

Célia AV Beleli, Admar C Filho, Ricardo M Silva,  Marcelo A Camargo, Deise R Scopin
Grupo de Cirurgia Bariátrica de Valinhos (GCBV). SP. Brasil

Recibido: 2011.02.05, Acetado 2011.02.28

Resumo:

Objetivo: Identificar fatores preditivos na perda de peso de pacientes submetidos ao Bypass Gástrico em Y de Roux. Material e Métodos: Estudo transversal descritivo com pacientes operados com anel inelástico entre 2000 e 2007. Avaliados 410 pacientes nos retornos de 2 e 5 anos de pós operatório através de banco de dados.  Avaliados: sexo, idade, peso, IMC, porcentagem do excesso de peso perdido (% EPP), porcentagem do excesso de IMC perdido (% EIMCP) e fatores preditivos para perda de peso. Resultados: idade 36,81 ± 11,01 anos, peso 122,85 ±22,22 kg, IMC 45,56 ±

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Célia Aparecida Valbon Beleli. Nutricionista
Grupo de Cirurgia Bariátrica de Valinhos. SP. Brasil
Clinica Concon . Silvio Concon n°430 . Valinhos - SP, Brasil.
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Tel. 55(19) 38691222
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6,86Kg/m². Retornaram 73,41% dos pacientes aos 2 anos, 39,51% aos 5 e 35,5%  aos 2 e 5 anos. Média do peso atingido 75,72 kg para 2 anos e  81,65 kg  para 5 anos. A %EPP foi de 75,69% aos 2 anos e 64,47% aos 5 anos; a % EIMCP foi de 85,77% aos 2 anos e 75,79% aos 5 anos. Variáveis que se apresentaram como fatores preditivos para o reganho de peso: idade ≥ 37,76 anos e IMC inicial ≥ 47 kg/m². Conclusão: Reganho de peso observado após 2 anos de cirurgia. A idade e IMC inicial mostraram-se importantes moduladores dos resultados e devem ser considerados durante a avaliação pré-operatória e evolução do paciente.

Palavras chaves:

Cirurgia bariátrica, perda de peso, reganho de peso, fatores preditivos.

Introdução:

A obesidade é uma doença que requer tratamento e acompanhamento por um longo período da vida 1. Em média 5% da população dos EUA estão obesa mórbida. As comorbidades mantêm-se refratárias no tratamento com dieta e terapia farmacológica, mas respondem bem com o tratamento cirúrgico para obesidade 2. A cirurgia bariátrica é aceita atualmente como a ferramenta mais eficaz no controle e tratamento da obesidade mórbida. Os principais benefícios decorrentes da cirurgia são a perda e a manutenção do peso corporal em longo prazo, melhora das doenças associadas, melhor percepção do comportamento alimentar com conseqüente melhora da qualidade de vida 3. Dentre as técnicas utilizadas atualmente considera-se como padrão ouro em cirurgias bariátricas, a gastroplastia redutora com derivação gastrojejunal em Y de Roux devido a sua baixa morbi-mortalidade e alto grau de eficácia 4.

Estudos têm demonstrado uma boa perda de peso no período de 18 a 24 meses após a cirurgia, mas após esse período inicia-se o reganho de peso 5. O Bypass Gástrico em Y de Roux (BPGYR) induz a uma média de perda de peso de 60 a 75% do excesso de peso corporal. O auge da perda de peso ocorre após 12 a 18 meses de pós-operatório, embora o mecanismo pelo qual a perda de peso ocorra não esteja completamente claro, parece que o decréscimo da ingestão energética pelo tamanho da bolsa gástrica seja o principal fator 6. Após o período de perda de peso, inicia-se um período de reganho de peso, que ocorre entre 2 a 5 anos após o BPGYR. Alguns fatores que influenciam a manutenção ou reganho de peso após a cirurgia incluem: tipo de cirurgia realizada, presença inadequada de hábitos alimentares, incluindo a possível presença de transtornos alimentares como a compulsão alimentar 7, e adesão a grupos de apoio, além do IMC pré-operatório e/ou peso muito elevados. Em um estudo de revisão de Hsu et al 8, sobre os fatores não cirúrgicos que influenciam os resultados da cirurgia bariátrica, encontraram que em 30 % dos pacientes ocorreu o  reganho de peso no período de  18 e 24 meses após a cirurgia. O reganho de peso após a cirurgia demonstra que a obesidade é uma doença crônica progressiva e que necessita de constante acompanhamento 9.

Portanto o objetivo do presente estudo foi o de identificar os fatores preditivos e avaliar a perda de peso de pacientes submetidos ao BPGYR no período de dois e cinco anos de pós-operatório.

Material e Método:

Um estudo transversal descritivo foi desenvolvido pelo Grupo de Cirurgia Bariátrica de Valinhos-SP (GCBV). No período de 2000 a 2007 foram submetidos ao BPGYR com anel inelástico de silicone 1400 pacientes obesos com IMC ≥ a 35 Kg/m² associados a comorbidades ou IMC ≥ 40Kg/m². Foram incluídos no estudo pacientes que efetuaram os retornos às consultas para reavaliação no seguimento de pós-operatório nos momentos de 2 e 5 anos,  ou em algum dos dois momentos. A tolerância para inclusão no estudo foram retornos com no máximo ± 2 meses para os tempos avaliados.

Os dados foram coletados por meio da utilização do banco de dados do GCBV. Foram avaliados 410 pacientes e coletadas as seguintes informações: sexo, idade, peso, IMC, %EPP, %EIMCP para os tempos 2 e 5 anos de pós-operatório.

Tomamos como base o período de 24 meses para avaliar o melhor peso perdido. Tal medida foi tomada em função do número de retorno às consultas ter sido mais relevante nesse período do que aos 18 meses, período que os pacientes também devem retornar para avaliação com equipe multidisciplinar.

Resultados:

As características dos pacientes avaliados estão demonstradas na Tabela 1. Do total dos 410 pacientes avaliados 83,41 % (342) eram do sexo feminino, 16,59% (68) do sexo masculino, com variação de idade entre 36,81± 11,01 anos, média de peso inicial 122,85 ± 22,22 Kg, média do IMC inicial de 45,56± 6,86Kg/m².

Encontramos que 73,41% (300) foram reavaliados após 2 anos  de cirurgia, 39,51% (162) após  5 anos e para o período de 2 e 5 anos  consecutivamente foram reavaliados 35,13% (144) pacientes. Obtivemos um seguimento nos tempos corretos de pós-operatório de 410 pacientes (25%), essa porcentagem deveu-se ao fato da não inclusão após o tempo pré-estabelecido segundo critérios do estudo (±2 meses).

Os dados foram modelados utilizando-se a metodologia de modelos lineares generalizados. O software utilizado foi o Statistical Analysis System, SAS.

O gráfico 1 demonstra a análise das médias de IMC nos períodos estudados, mostrando que a menor medida de IMC ocorreu para o período de 2 anos. A redução de IMC quando comparada com IMC inicial foi de 37,77% para o período de 2 anos e de 33,5% para o período de 5 anos. Se compararmos o IMC de 2 anos com o de 5 anos de pós-operatório obtivemos um aumento de 4,27%, como demonstrado no gráfico 1.

Quanto ao peso encontramos um valor médio de 76,39±14,01 kg para o período de 2 anos e de 81,65±17,08 kg para 5 anos de pós-operatório, um aumento médio de 5,93kg ( Tabela 2)

Quando analisamos a %EPP, encontramos para 2 anos após a cirurgia 75,69% de %EPP, e em 5 anos  67,47% de %EPP. Para ambos os tempos, a média encontra-se dentro de esperado, mas podemos observar que houve uma diminuição de 8,22% na % EPP entre 2 e 5 anos de pós-operatório (Gráfico 2).

Quando analisamos a % EIMCP encontramos para 2 e 5 anos de pós-operatório, respectivamente, média de  85,77% e  75,97%. Se compararmos o período de 2 anos e 5, percebemos uma diminuição  na % EIMCP de 9,8% para o período (Gráfico 3).

A % EIMCP mostrou-se maior no período de 2 anos e diminuiu no período de 5 anos de pós-operatório. Comparando a %EPP e % EIMCP, ambas mostraram-se correlacionadas, assim como  as proporções de aumento da %EIMCP são proporcionais a % EPP (Gráfico 4).

Quanto ao peso encontramos um valor médio de 76,39 ± 14,01 kg para  2 anos e de 81,65 ± 17,08 kg para 5 anos de pós-operatório, um aumento médio de 5,93kg. A tabela 2 demonstra as alterações das variáveis antropométricas ao longo do período estudado.
Em nosso estudo 26% dos pacientes apresentaram reganho de peso no período estudado.

Fatores preditivos para o reganho de peso:

De todas as variáveis utilizadas na análise estatística: idade, sexo, e IMC inicial, as variáveis idade e IMC inicial mostraram-se significantes para o reganho de peso, neste grupo de pacientes avaliados.

As variáveis que se apresentaram como fatores preditivos para o reganho de peso foram: idade e IMC inicial. Ou seja, ficou demonstrado que pacientes com idade maior do que a média das idades encontrada que foi de ≥ 37,76 anos a %EPP e a % EIMCP diminuiu, assim como os pacientes com idade menor do que a média de 37,76 anos tenderam a maiores % EPP, %EIMCP.

Quanto à variável IMC inicial, encontramos que os pacientes com IMC  inicial maior do que a média dos IMC de 47 Kg/m² apresentaram menores % EPP, e % EIMCP.

Discussão:

Vários estudos demonstram excelentes resultados com a perda de peso de pacientes após o BPGYR, mas alguns estudos têm demonstrado a ocorrência do reganho de peso após 2 anos do procedimento 10,11.

O consenso entre os pesquisadores com relação aos critérios do tratamento cirúrgico da obesidade é que haja perda de peso de pelo menos 50% do excesso de peso, e sua manutenção por um longo período [12]. Em recente meta análise, Buchwald 2   demonstrou que pacientes submetidos ao BPGYR obtiveram uma média da % EPP de 61,6 % após 2 anos de cirurgia. Em nosso estudo os pacientes avaliados perderam 75,69% da % EPP para 2 anos de pós operatório, que foi a média encontrada no estudo de Pories e col 13, com média de 75 a 80% da %EPP no período, mas no seguimento de seu trabalho, do 5° ao 14° ano de pós operatório apenas 66 % dos resultados permaneceram ótimos.

Quando avaliamos o período de 5 anos de pós-operatório dos pacientes estudados, ainda encontramos uma média aceitável da % EPP  que foi de 67,47%, mas quando comparado ao período de 2 anos  notamos uma elevação de 8,22%.

Deitel e Baltasar 14,15 descrevem que a % EIMCP é considerada como o melhor parâmetro para a avaliação da perda de peso, uma vez que utiliza o IMC ao invés do peso somente. Consideramos importante sua inclusão para uma avaliação mais precisa da perda de peso no pós operatório, analisando também a variação do IMC ao longo do período estudado.  Vários são os fatores que podem interferir no reganho de peso dos pacientes obesos submetidos à cirurgia. Em nosso estudo a idade foi um fator preditivo para um maior ganho de peso, ou seja, pacientes acima da média das idades de 37,76 anos apresentaram maior reganho de peso. Trabalhos semelhantes também encontraram relação com a idade e menor perda de peso 16. Da mesma maneira o IMC inicial acima de 47 Kg/m² mostrou-se correlacionado a menores %EPP e %EIMCP. O sexo não foi fator determinante para o reganho de peso. Vários fatores podem contribuir para esse evento: baixa adesão no acompanhamento do pós-operatório com a equipe multidisciplinar, dificuldade em promover mudanças no estilo de vida incluindo mudanças no comportamento alimentar e uma rotina de exercício físico 6 e muitas vezes alguns pacientes que apresentam reganho de peso, sentem que de alguma maneira falharam e não retornam ao acompanhamento 17.

De acordo com Collen 18, novos hábitos são fundamentais e necessários no seguimento de pós-operatório da cirurgia, como incluir na rotina diária: refeições balanceadas, prática de exercício físico e horas de sono. Em recente pesquisa, Leite 19 encontrou que pacientes que fazem refeições com elevada carga glicêmica também apresentam uma diminuição da perda de peso ao longo do pós-operatório.

Conclusão:

Concluímos, portanto que, o BPGYR mostrou-se como uma ferramenta eficaz para a perda de peso, mas o reganho de peso foi observado após o período de 2 anos  demonstrando a dificuldade na manutenção do peso perdido. É necessário um tempo maior de acompanhamento desses pacientes para determinarmos com precisão os fatores causais que contribuem para o evento estudado. A idade e IMC inicial mostraram-se como importantes moduladores dos resultados nesse estudo e devem ser considerados durante a avaliação pré-operatória e evolução do paciente.

Referências